O blog onde o amaral é o ponta de lança ideal

Wednesday, February 23, 2011

"Ali não há quem viva"

Acabo de chegar a casa.
É meia noite, o dia de trabalho começou cedo e só agora está a acabar.
Em situações normais, para além de já estar em casa bem mais cedo, iria já dormir. Contudo, não posso deixar de partilhar convosco a minha mais hilariante diligência, nesta minha, ainda, curta carreira de advogado.
Tendo-se mudado recentemente para um bairro típico de Lisboa, uma amiga minha, rapidamente se apercebeu do maior problema desses bairros: os vizinhos.
Assim, e após os primeiros contra-tempos ocorridos, foi agendada uma reunião extraordinária de condomínio, onde a minha amiga suspeitava que iriam debater uma eventual propositura de acção contra ela, de forma a se vingarem do anterior proprietário da fracção por si adquirida, na sequênia de umas obras feitas no seu apartamento e que transformaram o mesmo numa casa espectacular, contrariamente às dos demais condóminos.
E assim foi, à hora marcada là estávamos nós a entrar na casa do "Xôr Engenheiro", actual administrador interino do condomínio.
Como ninguém perguntou quem eu era, là entrei, sentando-me ao lado da " vizinha do R/c esq.", a qual eu suspeitava ser a pessoa mais equilibrada naquela sala onde rendas, rendinhas e naprons predominam.
Condóminos presentes: 1- uma velhota que adormeceu no sofá; 2- um reformado alentejano que, para além de surdo só não quer "pagar mais para obras" porque o "outro veio para cá lavar dinheiro e fazer obras no apartamento dele e agora chove no 1º andar" (o apartamento da minha amiga é no 4º andar..); 3- um reformado que adormeceu e que subitamente acorda e começa a proclamar "justiça!!! onde está a justiça deste país?"; 4- um outro vizinho que todas as noites ouve um "pingo pingo pingo" e que agora vai passar umas "temporadas para Rio de Mouro"; 5- a Dona Francisca (a tal que estava sentada ao meu lado e que eu achava tratar-se do elemento são) que em todas as propostas alertava para o facto de ter "o condominio em tribunal e de só falar na presença da sua advogada", 6- o Engenheiro reformado que se achava possuidor do dom da palavra e que usando muito vocabulário cuidado não diz nada, mas que merece a melhor admiração possivel dos restantes condóminios, com excepção da Francisca, a quem acusou de ter interesses na nova empresa de limpeza "porque eles vêm para cá e não põem cêra acrilica nas escadas do prédio"; 7- a minha amiga e eu.
Começada a reunião, 1o grande momento: o Pedro e a "Doutora", ambos representantes da empresa responsável pelo condomínio, mostram o carinho e boa relação entre ambos com um: " Pà oh Amélia não inventes, sim?" ao que esta responde " Limita-te a escrever o que eu te digo e mais nada".
Os pontos lá foram sendo aprovados, sempre com o Engenheiro em guerra aberta com a Francisca e todos alinhavando a conversa de forma a que até o facto da tinta do R/c ser da responsabilidade das obras do apartamento da "do 4.º andar".
Eis que chega o grande momento da noite: eleição do novo administrador residente.
Voluntários? Zero! Sugestões: "Aqui o nosso casal do 4o direito" - proclama o Xôr Engenheiro perante a concordância dos demais condóminos ainda acordados. "ohhh lááááá´" - penso eu.
A minha amiga acaba por se voluntariar, perante o olhar reprovador dos outros presentes que olhavam para mim com um ar de "olha-me este banana, só ela é que fala".
A reunião lá terminou: "Prazer", "Até à próxima".
Eis que a "Dra." me chama: "Foi um prazer conhecer-vos. Bem-vindos ao prédio e até à próxima reunião".
Sem conseguir conter o riso lá me fui embora para o meu "4o andar no bairro da Graça" fazendo tempo para os "meus novos vizinhos" descerem pelas escadas até aos seus andares, o que me permitiu beber uma jola e fumar um cigarro e ainda assim encontrar o vizinho do R/c nas escadas, para depois finalmente vir para casa após a reunião de condóminos mais surreal possivel.

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