Os Fangios das bicicletas

Como é do conhecimento geral, estes povos da Europa Central têm todos a mania da saúde e do ambiente, daí terem eleito a bicicleta como o meio de transporte preferido.. (queria ver se morassem em Lisboa na zona da Graça ou do Castelo..)
Esta mania da bicicleta tem muito que se lhe diga e para mim, um tipico português comodista, chega a tomar proporções inacreditáveis..
Enquanto o português que se digne, se for preciso mora numa barraca mas tem um Punto Gt á porta, aqui se for preciso gasta-se numa bicicleta o que o Zé do Talho de Alfama gasta a kittar o seu Fiat Uno de 1990, mas que manda mais luzes e som que a Feira de Messines quando anuncia o concerto dos Anjos no Verão.
Mas não é só o preço das bicicletas que é digno de registo, o que é mais hilariante é mesmo "ir para a estrada".
A bicicleta funciona como o verdadeiro instrumento de superiodade em relação aos outros, daí que seja muito normal irmos nós a passear na estrada a uma velocidade normal e passar um Alberto a alta velocidade(cerca de 5 km hora) que depois olha para ti como quem diz :"toma lá e vai buscar!".
Melhor ainda é quando eu, num acto de loucura,decido ultrapassar um desses fangios das duas rodas e um carreto e logo de seguida sou ultrapassado. O olhar do género "olha olha este armado em Fangio! Não é qualquer um que ultrapassa aqui a minha bicicleta que custa quase o mesmo que um prédio social na Rinchoa e que até campainha tem para avisar a "patroa" que tou a chegar. Mete-te la no teu lugar, ai atras a levar com o meu cheiro a suor que tou a mandar só por tar a fazer este esforço enorme para pedalar ainda mais rápido que tu ó caramelo!"
Surpreendente são também as operações "stop" a que os ciclistas estão sujeitos nesta cidade. Estão a imaginar o cenário: "o senhor ciclista infringiu uma regra de trânsito circulando a 10km á hora e não está a cumprir as regras de segurança já que a campainha da sua bicicleta não se ouve com nitidez. Bem, isto para não falar de que o seu celim, sendo o senhor do sexo masculino, deixa muito a desejar!"
Gosto particularmente também das conversas no parque de estacionamento das bicicletas: "Bem, comprei agora uma almofadinha para o meu celim. Agora sim, acabaram-se as dores no tútú", a que o outro responde "Almofadinhas? Eh pa eu comprei uns travões de disco, que não vai haver quem não me os gale no trânsito". E assim ficam horas a discutir os seus novos acessórios.
Eu realmente não percebo, gabam-se dos acessórios,gabam-se de serem Fangios, então e cavalhinhos e éguas? Isso sim é andar de bicicleta ou será que vocês não tiveram infância?
Claro que com tantas pessoas a andar de bicicleta, há sempre um ou outro acidente. Embora raros, há sempre os peritos em acidentes, que em 48horas têm 2, não é Arminda*? Também há aqueles condutores que gostam de andar aos zig-zags na estrada até passar um austriaco e o cumprimentar com um "FICK DICH!", mas isso são coisas de pessoas ruins que não compreendem a alegria que é para nós andar de bicicleta com temperaturas negativas ou então sair á noite e voltar para casa ligeiramente embriagado de bicicleta.
Maravilhoso também é após uma saída convidar a Heidi para ir até lá a casa. Estão a imaginar o cenário: "Então querida, trouxeste a tua bina?olha que vais ter muito que pedalar.." ou então "Das-me boleia?" "Só se for no cesto das compras da minha bicicleta, porque o celim almofadado já tem dono!"
Antes de terminar, não podia também me esquecer de falar do toque de classe que o óleo da corrente da bicicleta dá ás nossas roupas, acabadas de lavar propositadamente para ir jantar com a Flávia que vende salsichas alemãs ali na baixa da cidade. É sempre agradável e no minimo deixa-nos bastante mais confiantes para a noite que se avizinha
Bem,e com esta me despeço..


* nome ficticio para a rapariga portuguesa que mais acidentes de bicicleta teve cá em Graz neste Erasmus.. :P